A canção necessária: arte como lâmina de transformação social
![]() |
| Foto: Divulgação |
Num país onde milhões de
mulheres sustentam sozinhas o peso de famílias inteiras sob o olhar atravessado
da moral conservadora, a arte não pode se dar ao luxo da superficialidade. O
projeto do videoclipe "Quarentona", da Banda Electraxé, ergue-se como
um manifesto audiovisual urgente. Não se trata apenas de entretenimento; é um
ato político de reexistência.
Ao colocar no centro da narrativa
Zai — uma mulher de 40+, mãe solo, bem-sucedida e dona de seu corpo e desejo —
a obra rasga o véu da invisibilidade imposta às mulheres maduras. A trama, que
entrelaça sedução intergeracional e memórias de resistência, desmonta
estereótipos perversos: o de que a maternidade solo é fracasso, o de que a
maturidade feminina é decadência, o de que a autonomia sexual da mulher é
indecência.
Os números gritam: mais de 11
milhões de mães solo no Brasil carregam, além da responsabilidade solitária de
criar seus filhos, o fardo de uma sociedade que as julga enquanto lhes nega
políticas públicas efetivas. Ganham 39% menos que homens casados com filhos.
São empurradas para a informalidade pela ausência de redes de apoio. "Quarentona"
joga luz crua sobre essa realidade econômica e existencial, lembrando que
empatia não basta — exige-se ação coletiva e Estado presente.
A genialidade do projeto está em
sua linguagem: usa o humor e a batida contagiante do axé eletrônico como armas
de sedução massiva. Enquanto o corpo de Zai dança, sua história fura bolhas.
Chega aos jovens pela batida que contagia e prende as gerações mais
velhas pela representação que lhes foi negada a vida inteira. Essa é a potência
revolucionária do audiovisual: fazer da música um cavalo de Troia para ideias
que desmontam estruturas.
Ao exaltar a liberdade sexual
feminina sem subterfúgios, o clipe, contemplado no Edital Lei Paulo Gustavo DF,
ecoa conquistas legais recentes mas expõe o abismo entre leis no papel e mentalidades
arraigadas. Mostra que a verdadeira emancipação passa pelo direito de uma
mulher de 40+ desejar — e ser desejada — sem pedir licença a moralismos.
Este projeto é um chamado ao
combate. Combate à cultura que reduz mulheres a cuidadoras eternas e nega seu
direito ao prazer. Combate à romantização da pobreza feminina. Combate à ideia
de que envelhecer é desaparecer. Cada exibição em instituições sociais, cada
visualização nas plataformas, é um passo para transformar a arte em alavanca.
Porque quando uma "quarentona" dança na tela com sua história de
resiliência, ela não está apenas entretendo — está reescrevendo, quadro a
quadro, o imaginário de um país que insiste em subjugar metade de sua
população. A revolução será filmada, cantada e dançada — ou não será.
Banda Electraxé nas redes: www.youtube.com/@electraxe_zai | www.instagram.com/electraxe_
Serviço:
Lançamento Quarentona,
da Banda Electraxé
Dia 5 de setembro, às 12h, no
YouTube da @electraxe_zai
.jpg)
Comentários
Postar um comentário