Da Pavuna a Paris: um manifesto de moda e arte

 

Foto: Dilvugação


Na autobiografia "Uma Preta em Paris", a artista carioca Isabelle Mesquita aborda vivência periférica e resgata ancestralidade

Força que transforma invisibilidade em presença e resistência em beleza, Isabelle Mesquita construiu a própria história entre o subúrbio de Pavuna, no Rio de Janeiro, e as ruas parisienses. Mulher negra, artista e escritora, desde cedo enfrentou os desafios impostos pela desigualdade e pelo racismo. Mas ao decidir empreender no ramo da moda, na França, levou consigo não só sonhos, como também uma bagagem de vivências que moldaram sua visão de mundo. Em Uma Preta em Paris, ela narra essa travessia com honestidade, cujo passado e presente conectam-se de forma emocional e ideológica.  

Por meio de uma linguagem autobiográfica e potente, a autora costura memórias da infância com reflexões sociais e políticas. Filha de uma empregada doméstica e de um auxiliar de serviços gerais, ela relembra que, ainda criança, enfrentou a pressão para alisar o cabelo, uma das situações que despertou um olhar crítico sobre debates de raça, classe e gênero. Nesse contexto, a moda apareceu não apenas como linguagem estética, mas também como um caminho de reconexão com a identidade negra e a cultura periférica. 

Como artilista, o diálogo entre arte, moda e ativismo não é apenas o eixo central do meu trabalho, mas também minha maneira de contribuir para um mundo mais consciente e inclusivo. Minha arte transcende o belo e o funcional, abrindo espaço para discussões essenciais sobre racismo, feminismo e responsabilidade socioambiental. Essa perspectiva me levou a trilhar uma carreira internacional multifacetada. (Uma Preta em Paris, p. 242) 

Ao longo de 37 capítulos com ilustrações autorais, Isabelle Mesquita narra com profundidade as lutas e os desafios que enfrentou ao chegar à capital francesa como imigrante, sem diploma e visto. Impulsionada pelo desejo de criar e empreender, ela fundou o Isabelle Mesquita Studio, projeto que une moda ética, arte e ancestralidade. Mas longe de qualquer idealização, a Cidade Luz surge em sua narrativa como um espaço de enfrentamento, autoconhecimento e reinvenção.  

É nesse território marcado por contrastes que a autora se reconecta com as próprias raízes e transforma a vivência em um manifesto de resistência. Com fortes críticas sociais, a obra questiona ainda o mito do “glamour europeu” e mostra as dificuldades enfrentadas por imigrantes. É um testemunho real e necessário sobre a potência das mulheres negras que sonham alto, ao mesmo tempo celebra a força e criatividade de Uma Preta em Paris. 

 

FICHA TÉCNICA 

Título: Uma Preta em Paris  
Subtítulo: A jornada fantástica de uma menina periférica que desafiou as barreiras da pobreza e do racismo e ousou sonhar grande 

Autora: Isabelle Mesquita 

Editora: Scortecci 

ISBN: 978-85-366-6991-5  
Páginas: 244 

Preço: R$ 59,90 

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