Amazônia em tempos de cinzas: romance expõe os horrores da ditadura militar
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| Foto: Divulgação |
Em "Quando Caem as Cinzas", o
médico e escritor Carlos Augusto Ferreira Galvão resgata a memória da repressão
no Araguaia por meio de um romance que mistura lirismo, denúncia e resistência
Num Brasil
sufocado pela ditadura militar, um jovem médico se vê enredado em uma das
páginas mais violentas e silenciadas da história nacional. No romance Quando
Caem as Cinzas — Desventuras amazônicas na noite brasileira, Carlos
Augusto Ferreira Galvão dá voz às cicatrizes deixadas pela
repressão armada no sul do Pará, região marcada pela guerrilha do Araguaia. A
obra mescla ficção e realidade em uma narrativa potente sobre tortura, coragem
e memória.
O protagonista é
Benedito, recém-formado e idealista, que decide iniciar sua carreira médica em
Marabá, sem imaginar que encontrará uma Amazônia incendiada por conflitos
políticos. Em meio às contradições de um país em guerra contra si mesmo, ele se
depara com o drama de civis desaparecidos, perseguições e mortes promovidas
pelos órgãos de repressão. Na tentativa de permanecer ético e humano, o médico
se envolve com a causa dos camponeses e guerrilheiros, acabando ele próprio
como alvo da violência do regime.
Vesti-me e
fiquei a esperar a tal segunda ordem numa cadeira da varanda, vendo a bola
marrom, e cada vez mais opaca, em que se tinha transformado o sol morrer sem
uma gota de beleza ou poesia (...) Ao longe, os dois soldados acendiam grandes
fogueiras, e conseguia-se ver os cadáveres sendo jogados nelas para serem
reduzidos a cinzas. Pensei comigo que estavam destruindo provas (...) Nesta
constatação, percebi a fragilidade da minha vida e não pude evitar o
pensamento: o que ainda estaria reservado para mim? (Quando Caem as Cinzas —
Desventuras amazônicas na noite brasileira, p.162)
Com estrutura em
primeira pessoa e alternância de tempo narrativo, o livro constrói uma saga que
oscila entre o trágico e o poético, misturando lembranças pessoais, elementos
históricos e reflexões sobre o papel do indivíduo diante do autoritarismo.
Benedito é mais do que um personagem: ele é símbolo de uma juventude que se
negou a calar diante das injustiças. Ao lado dele, surgem figuras marcantes da
resistência, como líderes rurais, militantes e cidadãos comuns, todos marcados
pelas cinzas de um tempo sombrio.
“É muito
pertinente para os jovens, pois a verdadeira história da ditadura iniciada em
1964 não pode ser esquecida”, afirma o autor. Carlos faz de sua escrita uma
ferramenta de preservação da memória e de denúncia, numa literatura
comprometida com a verdade histórica.
Quando Caem
as Cinzas é, sobretudo, um chamado
à lembrança. Em tempos de revisionismos e apagamentos, o romance ecoa como um
grito de alerta: para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça.

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