O Cerrado de Dona Severina
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| Foto: Divulgação |
Aos 82 anos, a artesã e artista visual, Severina Gonçalves,
inaugura nesta quinta-feira (09), no Complexo Cultural de Planaltina, a
Exposição Cerrado. As peças, concebidas através de processos manuais únicos,
utilizam o reaproveitamento e a reciclagem de materiais e propõem uma reflexão
para a consciência socioambiental.
A exposição
intitulada Cerrado chega à Galeria do Complexo
Cultural de Planaltina a partir do dia 09 de dezembro, composta por
cerca de 100 peças que levam a assinatura de Severina Gonçalves, artesã e
artista visual, potiguar da cidade de Riacho de Santana e radicada em
Planaltina desde 1985.
Severina Gonçalves do Rego descobriu sua arte
aos cinco anos, de forma lúdica, transformando a cera da abelha Jandaíra,
semelhante à massa de modelar infantil, em pequenos bichinhos, passarinhos e flores,
que transmitem sua admiração pela natureza. Hoje, aos 82 anos, a artista já
possui mais de mil peças produzidas, entre esculturas, bordados, costuras e
crochês, elaborados por meio de processos criativos únicos, utilizando como
matéria-prima determinante o que seria descartado e viraria lixo.
Totalmente advindas do descarte, que, aliás, se
torna irreconhecível, suas peças dão vida a toneladas de fios, plásticos,
vidros, metais, sacos de batata, cordas de persianas, arames, embalagens e
fibras, fazendo nascer de suas mãos flores, leões, pavões, pássaros grandes e
pequeninos, que concebem sua arte.
“Transformo o que os outros chamam de lixo em
esculturas, flores e artesanato, com diferentes formas, desenvolvidas por mim,
nunca frequentei uma escola de Belas Artes, meu estilo é próprio: Arte
Severina” . Essa é a definição que a artista, que cursou a escola até a 4ª
série do ensino fundamental, dá para seu trabalho artesanal, captando da nossa
flora e fauna a inspiração para criar esculturas ricas em detalhes, mistura de
cores, texturas e significados. A comercialização de seu trabalho, em feiras e
ruas, permitiu enfrentar as dificuldades financeiras, contribuindo para a
criação de seus 09 filhos, na cidade de Planaltina, região periférica de
Brasília.
Intitulada Cerrado, a mostra faz
deferência ao segundo maior bioma brasileiro em extensão e a mais rica savana
do mundo em biodiversidade, tons e formas próprios, que se configuram como fio
condutor para a criação da artista.
A realização da exposição simboliza uma forma de
reconhecimento e valorização de sua trajetória de mais de 70 anos de criação,
ultrapassando o conceito de sua produção artística, comumente entendida como
artesanato, para o ambiente das galerias de artes.
A curadoria da exposição é realizada por Jordny
Bor, arquiteto e artista visual, neto de Dona Severina, e Ana Mago, professora,
poetisa e filha da artista. Cerrado tem a pretensão de
despertar no público um olhar especial para o trabalho da artista plástica,
abrindo caminho para a percepção de características singulares e detalhadas e o
encantamento pela delicadeza impressa em cada peça.
Olhares que se expandem e que trazem à tona a
importância da questão ambiental, das diversas perspectivas do reaproveitamento
de resíduos descartados, que se transformam e provocam nosso entendimento sobre a
arte na sustentabilidade. A coleção apresentada traz trabalhos atuais,
produzidos recentemente em meio à pandemia, e peças que marcam o início da
carreira, em 1984.
Nessa direção, a mostra também revela o processo
de produção, permitindo ao público conhecer os pontos de partida de cada
objeto, as formas dos materiais brutos e o longo caminho até chegar à peça
final.
Assim, a produção artística de Severina
Gonçalves nos permite ir ainda mais além, evidencia o feminino, a terceira
idade e a influência benéfica da arte. Leva-nos a refletir as formas de
expressão de uma mulher em harmonia com a natureza, que se traduz em liberdade
e leveza de sua criação inventiva, seu universo de memórias desde menina, vivências
e resistência. Mesmo com o passar da idade, a fascinante arte de Dona Severina
reflete que a ação do tempo simplesmente a fez brilhar mais ainda.
A exposição incentiva a reflexão sobre a
importância da reciclagem, o cenário preocupante que vivemos no planeta, e é
carregada de valor social, ambiental e cultural. Tem propósito.
Totalmente gratuita, a iniciativa possui censura
livre, com visitas guiadas para escolas e grupos, e monitoria habilitada em
libras. O projeto conta com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), por
meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do GDF.
O quê: Exposição: “Cerrado”;
Quando: 09 de dezembro de 2021 a 09 de janeiro de 2022. Horário:
Das 09h às 18h – de segunda a sexta-feira;
Onde: Galeria
do Complexo Cultural de Planaltina, Avenida Uberdan Cardoso, St.
Administrativo Lote 02 - Planaltina, Brasília - DF, (61) 3389-2441;
Agendamento para
visitas monitoradas: Tel. (61) 98594-1805
Ingresso: Grátis;
Número de obras: 100;
Técnicas: esculturas;
Dimensões: variadas.

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