Centro Cultural Banco do Brasil Brasília apresenta a exposição Vaivém
![]() |
| Foto: Adriana Aranha, Sem título, 2007, Nº 2 de edição de 2 + PA |
Mais de 300 obras dos séculos 16 ao 21 destacam as redes de dormir na arte e cultura visual no Brasil
O Centro Cultural Banco do Brasil Brasília recebe, de 3 de setembro a 10
de novembro, a exposição Vaivém, que retrata a trajetória das redes
de dormir nas artes e na cultura visual no Brasil. Com curadoria de
Raphael Fonseca, crítico, historiador da arte e curador do MAC-Niterói, a
mostra reúne mais de 300 obras, com recorte entre os séculos 16 ao 21, e a
participação de 141 artistas – entre eles, 32 indígenas.
Na seleção, pinturas, esculturas, instalações, fotografias, vídeos,
documentos, intervenções e performances, além de objetos de cultura visual,
como HQs e selos, Vaivém está estruturada em seis núcleos
temáticos e transhistóricos que serão exibidos nas Galerias 1 e 2 e Pavilhão de
Vidro do CCBB.
Na abertura da mostra, no dia 3 de setembro, às 19 horas , o público
terá a oportunidade de conhecer o processo de montagem e seleção das obras com
o curador Raphael Fonseca. Ele ministra a palestra Construções do Brasil
no vaivém da rede de dormir: de pesquisa acadêmica para uma exposição transhistórica,
no hall do Museu (1º andar).
A mostra nasce de uma pesquisa de doutorado do curador, que decidiu
transformar o trabalho acadêmico em exposição de arte e compartilhar com o
público parte das obras que encontrou ao longo dos quatro anos de pesquisa.
“Longe de reforçar os estereótipos da tropicalidade, esta exposição investiga
as origens das redes e suas representações iconográfica. Ao revisitar o passado
conseguimos compreender como um fazer ancestral criado pelos povos ameríndios
foi apropriado pelos europeus e, mais de cinco séculos após a invasão das
Américas, ocupa um lugar de destaque no panteão que constitui a noção de uma
identidade brasileira”, explica Fonseca.
![]() |
| Foto: Bené Fonteles. Série Ninhos , 1988, fotografia, coleção do artista |
O projeto
expográfico criado para Vaivém divide a exposição em núcleos temáticos que facilitam
a visitação do público. O primeiro,Resistências e permanências traz as redes
como símbolo e objeto onipresente da cultura dos povos originários do
Brasil. Neste núcleo, a maioria das obras é produzida por artistas
contemporâneos indígenas, como Arissana Pataxó. No vídeo
inédito Rede de Tucum, ela documenta Takwara Pataxó, a Dona Nega,
única mulher da Reserva da Jaqueira, em Porto Seguro (BA), que ainda guarda o
conhecimento sobre a produção das antigas redes de dormir Pataxó, feitas com
fibras extraídas das folhas da palmeira Tucum.
Carmézia Emiliano começou a pintar de maneira
autodidata em Roraima. Se tornou conhecida por telas que registram o cotidiano
dos indígenas Macuxi, muitas protagonizadas por mulheres, e terá expostas
pinturas feitas especialmente para o projeto, além de obras mais antigas. Também
da etnia Macuxi, Jaider Esbell criou para a mostra a
instalação A capitiana conta a nossa história. A uma rede de couro
de boi estão presos um texto de autoria do artista e uma publicação com
documentos sobre as discussões em torno das áreas indígenas de seu estado.
Outro destaque é Yermollay Caripoune, que, vivendo na região
do Oiapoque, entre a aldeia e a cidade, participou de poucas
exposições fora do Amapá. Na série de seis desenhos que desenvolveu para Vaivém,
o artista apresenta a narrativa dos Karipuna sobre a origem das redes de
dormir.
O núcleo reúne ainda trabalhos de grandes nomes da arte brasileira, como
fotografias dos artistas e ativistas das causas indígenas Bené
Fonteles e Cláudia Andujar, e o objeto de Bispo do
Rosário Rede de Socorro, uma pequena rede de tecido onde se lê
o título da obra.
O segundo núcleo, A rede como
escultura, a escultura como rede, reúne trabalhos
que apresentam redes de dormir a partir da linguagem escultórica como Rede
Social, uma instalação interativa do coletivo Opavivará!,
com uma rede gigante que convida o público a se deitar e balançar ao som de
chocalhos. Fazem parte ainda obras do jovem artista Gustavo
Caboco, de Curitiba e filho de mãe indígena, e Sallissa Rosa,
nascida em Goiânia e filha de pai indígena. Neste núcleo ainda, uma série de
gravuras em que discute seu pertencimento e não-pertencimento às culturas
ameríndias no Brasil e Ela, vídeo criado a partir de selfies de
mulheres em redes de dormir, que revela uma visão complexa sobre o lugar da
mulher indígena na sociedade contemporânea brasileira.
De Hélio Oiticica foram selecionadas fotografias da
pouco conhecida série Neyrótika e, de Ernesto Neto,
um conjunto de obras do início de sua carreira, nos anos 1980, onde redes não
aparecem literalmente, mas são sugeridas em uma dinâmica de tensão e
equilíbrio. Integram ainda o segmento redes de artesãs de
diversas regiões do Brasil.
![]() |
| Foto: Luiz Braga. Barco em Santarém, 2007, fotografia, Acervo Banco Itaú |
Entre eles, dois do Amazonas: a pintora Duhigó Tukano, que apresenta a inédita acrílica Nepũ Arquepũ (Rede Macaco), sobre o ritual de nascimento de um bebê Tukano, e Dhiani Pa’saro, ainda pouco conhecido fora de seu estado natal, que expõe a marchetaria Wũnũ Phunô(Rede Preguiça), composta por 33 tipos de madeira e inspirada em duas variações de grafismos indígenas: o “casco de besouro” (Wanano) e o “asa de borboleta” (Ticuna).
Em Disseminações: entre o público e o
privado as redes surgem em atividades
do cotidiano do Brasil colonial, como mobiliário, meio de transporte e práticas
funerárias. Um dos destaques é Dalton Paula, artista
afro-brasileiro de Goiás, que lança em suas pinturas um olhar sobre as
narrativas a respeito da negritude no Brasil desde a colonização.
Os lugares que as redes ocupam na vida contemporânea no Brasil, em
especial na região Norte, também estão pontuados nesse núcleo. Fotografias
de Luiz Braga, por exemplo, exibem redes de dormir em cenas do
dia-a-dia no Pará.
Seguindo a mostra, no núcleo Modernidades:
espaços para a preguiça a rede passa a ser associada à preguiça, à estafa e ao descanso
decorrentes do encontro entre o trabalho braçal e o calor tropical. O ponto
central é ocupado por “Macunaíma” (1929), livro de Mário de Andrade. O
personagem que passa grande parte da história deitado em uma rede está em obras
de diferentes linguagens.
Carybé foi o primeiro artista a fazer
ilustrações de Macunaíma. Um desenho pouco exibido de Tarsila do Amaral mostra
o Batizado de Macunaíma. Joaquim Pedro de Andrade dirigiu
o longa-metragem que, estrelado por Grande Otelo, completa 50 anos em 2019, e os
cartunistas Angelo Abu e Dan X adaptaram a
história em quadrinhos.
No espaço também estão Djanira, com o raro
autorretrato Descanso na rede, em que surge ao lado de seu
cachorro, e peças de mobiliário desenhadas por Paulo Mendes da
Rocha e Sergio Rodrigues.
E por fim, no núcleo Invenções do Nordeste, foram reunidas
obras que transformam em imagens mitos a respeito da relação entre as redes e
esta região do país, além de trabalhos em que elas surgem como símbolo de
orgulho local e de sua potente indústria têxtil. Destaque para uma série de
fotografias de Maurren Bisilliat pelo sertão nordestino e as
cerâmicas de Mestre Vitalino que retratam grupos de pessoas
enterrando entes dentro de redes.
A exposição traz também obras de Tunga, artista que
inaugurou o CCBB São Paulo, em abril de 2001. A instalação Bells Falls ganha
uma nova versão e é apresentada ao lado dos registros fotográficos da
performance “100 Rede”, realizada em 1997 na Avenida Paulista.
Vaivém esteve em cartaz no Centro
Cultural Banco do Brasil São Paulo até 29 de julho. Após a etapa em
Brasília, segue para o Rio de Janeiro (dezembro/2019) e Belo Horizonte
(março/2020).
O quê: Vaivém;
Quando: Galerias
1 e 2 e Pavilhão de Vidro / Centro Cultural Banco do Brasil Brasília. De 3 de setembro
a 10 de novembro. Visitação: De terça a domingo, das 9h às 21h;
Onde: CCBB - SCES Trecho 2 – Brasília/DF;
Palestra com o Curador
Construções do Brasil no vaivém da rede de dormir:
de pesquisa acadêmica para
uma exposição transhistórica", com Raphael
Fonseca. Terça, 3
de setembro, às
19 horas, no hall do Museu (1º andar);
Ingresso: entrada
gratuita mediante voucher a ser retirado na bilheteria do CCBB.



Comentários
Postar um comentário