O legado científico das curandeiras africanas no Brasil
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| Foto: Divulgação |
Em romance histórico, Renato Moreira
resgata os conhecimentos de cura deixados pelas escravas angolanas na medicina
e sociedade
No caminho a pé
para casa, após horas dedicadas a um parto difícil, a experiente curandeira
Natula e a filha Kalinda são capturadas em Angola e levadas para o Brasil como
escravas. Assim inicia a história de resistência contada na obra A
curandeira Bantu, do escritor, professor universitário e PhD em
bioquímica Renato Moreira. Ele resgata a contribuição dos
povos africanos para a construção social do país, não somente pelos exemplos de
luta, mas também pelos conhecimentos curativos de seus antepassados.
Após terem as
vidas drasticamente transformadas pela escravidão, as protagonistas encontram
na ancestralidade um refúgio para aliviar suas dores e superar as dificuldades.
Por meio do uso de chás e unguentos feitos com ervas medicinais locais, elas se
reconectam com as próprias origens ao exercerem vocações de curandeiras e
parteiras. Devido à escassez de conhecimentos sobre cura na época, começam a
atender aos escravos doentes da própria Casa Grande e, depois, das fazendas de
café vizinhas.
Com o tempo,
expandem os serviços para os moradores negros e brancos dos arredores. Assim,
fundam a "Casa da Mãe Neusa", um local dedicado aos cuidados dos
enfermos, que mantém viva a esperança e a busca pela liberdade. Desta
forma, Renato Moreira entrelaça seu conhecimento
científico com a paixão pela história – apoiado em extensa pesquisa –, no
intuito de celebrar a cultura africana e a batalha das mulheres que puderam se
reencontrar mesmo em meio às adversidades.
Até que um
dia, o acaso, sempre agindo, fez com que uma informação surgisse
sobre duas curandeiras de Angola que preparavam “remédios do mato”,
atendiam
mulheres em trabalho de parto e cuidavam de escravos e brancos doentes numa
fazenda de café no Vale do Paraíba. (A
curandeira Bantu, p. 128)
Os 17 capítulos
da trama fictícia se conectam com outros sete anexos adicionados pelo autor no
fim do livro, como uma espécie de glossário. São referências sobre os nomes
históricos usados, uma linha do tempo dos acontecimentos, locais reais
frequentados pelos personagens, além de conter explicações sobre doenças,
processos de cura e plantas medicinais.
O leitor também
vai encontrar uma breve contextualização dos povos e etnias nativos da África e
das Américas, como o grupo etnolinguístico Bantu, ao qual pertencem
protagonistas da obra. Também chamado de banto, o povo estava localizado,
principalmente, na África subsaariana, que foi a principal região de pessoas
traficadas para o Brasil.
Sobre o
autor: Renato de Azevedo
Moreira é natural de Recife e, aos 17 anos, mudou-se para Fortaleza, onde vive
até hoje. Sempre teve duas paixões: o estudo das Ciências da Natureza e a
História. Formado em Química Industrial pela Universidade Federal do Ceará
(UFC), seguiu carreira acadêmica na área da Bioquímica; fez doutorado e
pós-doutorado em Bioquímica e Imunologia na França e na Escócia. Atualmente é
Professor Titular Aposentado da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da
Universidade de Fortaleza (Unifor). Também é membro da Academia Cearense de
Química e da Academia Cearense de Ciências. Seu livro de estreia na literatura
é o romance histórico João Caetano, Memórias de um Abolicionista,
publicado pela Editora Autografia, e agora lança A curandeira Bantu.
Instagram
do autor: @renato_de_azevedo_moreira

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