Centro Cultural Banco do Brasil Brasília celebra os 120 anos de nascimento de Nise da Silveira com uma mostra de artes visuais sobre seu pensamento vanguardista

 


Foto: Divulgação


Médica psiquiatra e cientista brasileira, Nise da Silveira revolucionou o campo da saúde mental ao colocar o afeto como protagonista, demonstrando que a arte é uma poderosa ferramenta na mediação com o inconsciente.

 

 

De 17 de dezembro de 2024 a 23 de fevereiro de 2025, a Galeria 1 do Centro Cultural Banco do Brasil Brasília recebe Nise da Silveira – A Revolução Pelo Afeto, exposição que convida a ressignificar o conceito de loucura através de um mergulho na intersecção entre saúde mental e artes. A mostra apresenta uma experiência imersiva com cerca de 200 trabalhos, de 38 artistas, em guache, óleo, grafite, fotografia, videoinstalações e outras técnicas, além de um extenso acervo histórico.

 

Criada e realizada pelo estúdio UM-BA-RA-KÁ, que também assina a curadoria, e com consultoria do psiquiatra Vitor Pordeus e do museólogo Eurípedes Júnior, Nise da Silveira  A Revolução Pelo Afeto  foi apresentada em seis cidades, sendo em Brasília sua sétima edição. O projeto tem patrocínio do Banco do Brasil e da RD Saúde, formada pela Raia e Drogasil, por meio da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura.

 

Dentre os ‘clientes’ - forma como Nise preferia chamar os pacientes do Hospital Psiquiátrico Engenho de Dentro, presentes na exposição estão: Adelina Gomes, Arthur Amora, Beta d’Rocha, Fernando Diniz, Carlos Pertuis e Raphael Domingues. Em diálogo com nomes consagrados como: Alice Brill, Abraham Palatnik, Lygia Clark, Leon Hirszman, Margaret de Castro, Tiago Sant’Ana, Rafa Bqueer, Carlos Vergara e Zé Carlos Garcia. Muitos desses visitaram o ateliê de Nise, onde ficaram impressionados e inspirados, reconhecendo as inovações trazidas pelos clientes e se enriquecendo com essa interação.

 

Nise da Silveira ficou mundialmente conhecida por adotar o afeto como metodologia no tratamento a pessoas com distúrbios psíquicos. Ao buscar formas de acessar camadas do inconsciente, por meio do uso de ferramentas artísticas, Nise ressignifica o entendimento da loucura na história.

 

Segundo a curadoria, “Nise queria transformar doentes dopados e alienados por pessoas integradas, assistidas e tocadas, ou seja, afetadas. Em vez de choques, a emoção de lidar e a adoção das artes como método de tratamento. E, definitivamente, a substituição do encarceramento por liberdade”.

 

Em parceria com o Museu de Imagens do Inconsciente, a exposição oferece um recorte histórico e científico da vida, da obra e do legado de Nise da Silveira dividida em quatro núcleos: Contexto, dor & afetoSer mulher, ser revolucionáriaO Ateliê; e Engenho de Dentro: inconsciente e território.

 

No piso térreo da Galeria, Três ilhas expositivas apresentam os temas: Contexto, dor & afeto e introduzem o visitante ao pensamento da médica e cientista e faz um convite a questionar os conceitos de normalidade e loucura, destacando seus precursores, os tratamentos desumanos aplicados à época e introduzindo o método de Nise baseado em relações de afeto como algo revolucionário.

 

Em Contexto são apresentados os precursores do pensamento de Nise e situa o panorama da saúde mental no período em que a cientista iniciou sua revolução. Já a seção Dor expõe os métodos desumanos da época, como lobotomia e eletrochoques, destacando a ineficácia do isolamento social. Por fim, Afeto introduz o método inovador desta cientista alagoana, que trouxe uma abordagem vanguardista para o campo.

 

Entre os 17 artistas presentes neste espaço introdutório estão clientes, a exemplo de Adelina Gomes, Carlos Pertuis e Emygdio de Barros, cujos trabalhos ajudam a compreender o método de Nise, em diálogo com nomes das escolas e academias modernas dos anos 1940 e 1950, como Abraham Palatnik e Lygia Clark.

 

Nesse primeiro núcleo, destacam-se obras como “Livro Dentro do Coração”, de José Basto e que ganha versão tátil em Brasília, “Retrato de Carlos Pertuis com Sertanejo”, de José Paixão, além de trechos do livro “Cartas a Spinoza”, de Nise.

 

Uma novidade é a obra comissionada para esta edição do artista visual Ygor Landarin, que explora a relação humana com a natureza. Ygor cria um jardim de flores como um tributo à obra e história de vida de Adelina Gomes. Inspirado nas transformações vegetais, que marcam a produção da artista (o mito de Dafne), Landarin recria um jardim que reflete delicadeza e resistência. Suas criações capturam a essência das mulheres-flor de Adelina, ecoando um universo em que a arte se torna abrigo e potência para transmutar a dor em beleza.

 

O segundo núcleo apresenta Nise com a frase: Ser mulher, ser revolucionária e convida o visitante a conhecer sua biografia, numa linha do tempo que mostra a história de resiliência da personagem. De única mulher em uma turma de formandos em medicina, no ano de 1926, passando pela prisão e exílio, a forma revolucionária de lidar com a psiquiatria, até os caminhos a ser reconhecida como Heroína da Pátria. Este núcleo apresenta obras de Carlos Vergara, com a série criada no presídio Frei Caneca, onde Nise foi encarcerada e de onde saiu com mania de liberdade.

 

 

Uma breve biografia

 

Natural de Maceió (AL), Nise ingressou no curso de medicina aos 15 anos e foi a única mulher entre os 157 formandos. Com seu marido, o médico sanitarista Mário Magalhães, optou por não ter filhos para se dedicar ao exercício de sua profissão. Na década de 1930, por sua militância política, foi presa pelo Estado Novo, quando conviveu com Olga Benário, Graciliano Ramos, que a citaria em sua autobiografia “Memórias do Cárcere”, e Maria Werneck, advogada e sufragista.

 

De volta às suas atividades, em 1944, ingressou no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, e em 1952 fundou o Museu de Imagens do Inconsciente. A proximidade com Carl Gustav Jung se deu a partir de 1954, de quem veio o incentivo a estudar mitologia como forma de ampliar as ferramentas de leitura de seu trabalho.

 

Em vida, recebeu homenagens e prêmios, como a Ordem de Rio Branco, pelo Ministério das Relações Exteriores, em 1987; o Prêmio Ciccillo Matarazzo, na categoria Personalidade do Ano, da Associação Brasileira de Críticos de Arte, em 1992; a Medalha Chico Mendes, do Tortura Nunca Mais, em 1993; e a Ordem Nacional do Mérito Educativo, pelo Ministério da Educação e do Desporto, em 1993.

 

Nise faleceu aos 94 anos, em 1999, no Rio de Janeiro, decorrente de complicações causadas por uma pneumonia. No ano de 2022, foi reconhecida como Heroína da Pátria pelo governo Lula.

 

 

No terceiro núcleo da exposição, O Ateliê, a expografia de Diogo Rezende, designer e sócio do estúdio UM-BA-RA-KÁ, envolve o visitante na atmosfera acolhedora e libertadora que a Doutora Nise criou para o trabalho no ateliê do hospital, destacando a humanidade e o calor desse espaço. Um ambiente de afeto e liberdade, no qual se respirava uma atmosfera positiva de esperança e de estímulo à colaboração e à empatia.

 

Neste ambiente é evidenciado como as oficinas de pintura e de modelagem se destacaram entre as demais atividades, não  pela qualidade excepcional dos trabalhos produzidos, mas também pelo benefício terapêutico rápido que proporcionavam. As oficinas foram fundamentais para a criação do Museu de Imagens do Inconsciente. Neste contexto apresentam-se obras de Adelina Gomes, Renata, Rizza Conde, Beta d'Rocha, Darcílio Lima, Carlos Pertuis, Margaret de Castro (convidada para ilustrar a biblioteca de Nise) e, especialmente, três obras do artista Raphael Domingues, posicionadas em destaque.

 

Em Engenho de Dentro: inconsciente e território, último núcleo da exposição, revela-se o território em que surgem as oficinas de terapia: o Hospital Psiquiátrico Engenho de Dentro, que passou a se chamar Instituto Municipal Nise da Silveira, após o falecimento da cientista, e foi permanentemente desativado em 2021.

 

Das apresentadas estão: “Alice e o chá através do espelho”, de Rafa Bqueer, “Refino #2”, de Tiago Sant’Ana, ilustrações criadas por C. G. Jung e publicadas no Livro Vermelho, descobertas apenas no século XXI, e a videoinstalação “Poço do Inconsciente”, criada pelo estúdio UM-BA-RA-KÁ, em colaboração com o músico Pedro Mibielli e o designer Bruno Portela.

 

Para Eurípedes Júnior, que está ligado à doutora e ao Museu de Imagens do Inconsciente desde 1974, “colaborar com essa mostra foi um desdobramento natural de um trabalho que desenvolvo  anos com a equipe do Museu, um centro vivo de criação e de divulgação científica e artística. O Museu se empenha fortemente na luta pela redução do estigma e pela mudança de paradigma da sociedade em relação à loucura. As pinturas são apaixonantes porque revelam mais do que sabemos sobre os mistérios da mente humana. É uma alegria levar esses conteúdos ao grande público do CCBB”.

 

Produtora e sócia do UM-BA-RA-KÁ, Isabel Seixas diz que “a exposição busca apresentar a vanguarda do pensamento brasileiro e da ciência desta mulher revolucionária, cuja inquietude lançava ao novo. Foi uma pessoa que não se deixou encaixotar, de pensamento muito livre e para quem o encarceramento era impensável. Nise da Silveira (devemos reverberar esse nome) permitiria múltiplas abordagens - valorizar seu gesto revolucionário a partir do afeto é potente nos dias de hoje”, sugere.

  

 

Acessibilidade

 

A ação “Vem pro CCBB” conta com uma van que leva o público, gratuitamente, para o CCBB Brasília. A iniciativa reforça o compromisso com a democratização do acesso e a experiência cultural dos visitantes. A van fica estacionada próxima ao ponto de ônibus da Biblioteca Nacional.

 

O acesso é gratuito, mediante retirada de ingresso, no site, na bilheteria do CCBB ou ainda pelo QR Code da van. Lembrando que o ingresso garante o lugar na van, que está sujeita à lotação, mas a ausência de ingresso não impede sua utilização. Uma pesquisa de satisfação do usuário pode ser respondida pelo QR Code que consta do vídeo de divulgação exibido no interior do veículo.

 

Horários da van:

Biblioteca Nacional – CCBB: 12h, 14h, 16h, 18h e 20h

CCBB – Biblioteca Nacional: 13h, 15h, 17h, 19h e 21h

 

 

 

 

Serviço:

Nise da Silveira  A Revolução Pelo Afeto

Idealização e curadoria: Estúdio M’Baraká

Local: Galeria 1 do Centro Cultural Banco do Brasil Brasília

Endereço: SCES Trecho 02 Lote 22  Edif. Presidente Tancredo Neves  Setor de Clubes Especial Sul

Temporada: de 17 de dezembro de 2024 a 23 de fevereiro de 2025

Visitação: de terça-feira a domingo, das 9h às 21h (entrada no espaço expositivo até 20h40)

Acesso: gratuito, mediante retirada de ingresso no site www.bb.com.br/cultura e na bilheteria física do CCBB Brasília, a partir das 12h de 13 de dezembro.

Classificação indicativa: livre para todos os públicos

Informações: fone: (61) 3108-7600 | e-mail: ccbbdf@bb.com.br | site: bb.com.br/cultura | Instagram: @ccbbbrasilia | Tiktok: @ccbbcultura | YouTube: Bancodobrasil

Patrocínio: Banco do Brasil e RD Saúde, via Lei Rouanet de Incentivo à Cultura

Realização: Ministério da Cultura e Governo Federal

 


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